Joana Fitas

O Tarot enquanto Ferramenta Terapêutica

Por Joana Fitas em Maio de 2021

Tema Desenvolvimento Pessoal / Publicado na revista Nº 20

Todos conhecemos o tarot, ou pelo menos já ouvimos falar, mas nem sempre é a sua dimensão terapêutica a mais conhecida, ou, pelo menos, a mais divulgada. Pelo que é natural atribuirmos outros sentidos, ou, pelo menos, outras funções ao tarot, até por uma questão de construção social criada ao longo dos tempos, que poderá ser preenchida de preconceitos e, até, contradições.

Ao estudarmos mais, ao envolvermo-nos com cada lâmina percebemos a sua profunda dimensão simbólica, que, usada corretamente, ganha um enorme potencial como ferramenta de desenvolvimento pessoal.

É muito mais construtivo termos no tarot um aliado no aconselhamento, que nos ajuda a compreender as vulnerabilidades, como ultrapassá-las, assim como a consciência das potencialidades e forma de as trabalhar. Compreendemo-lo, assim, numa conexão com a experiência humana: ainda que únicos, há algo que é semelhante entre nós, que é a nossa construção enquanto indivíduos.

E é neste contacto com a nossa individualidade que o tarot ganha a sua dimensão terapêutica, que nos leva a um conhecimento mais profundo da nossa jornada, dos momentos da nossa vida, dos desafios e dos objetivos que há a realizar. 

Convido-vos, então, a calçar os sapatos do Louco, e experienciar como ele passa de lâmina em lâmina, confrontando-se com desafios, e enfrentando uma infinidade de potenciais que poderá, enquanto indivíduo, desenvolver. Irei dividir esta jornada em três tempos diferentes, importantes para a construção da sua identidade. 

Num primeiro momento vamos ver o nosso Louco em relação com os outros: a construção da sua identidade no confronto com o que lhe é externo. 

Parte do arcano I o Mago, capacitando-se de ferramentas para reagir; passa pela Sacerdotisa, onde é levado a explorar as emoções, o inconsciente; na Imperatriz sente-se capacitado em dar vida aos seus objectivos, assim como a nutri-los; no Imperador impõe-se por si, enquanto desafia os limites da autoridade, tanto da sua, como daquela que lhe é imposta; e poderá mesmo questionar a divindade quando chega ao Arcano do Papa, num conflito com o que o transcende. 

Nestas escolhas e tomadas de decisão há uma mudança que se processa, uma mudança de crescimento, de maturidade, reconhece-se agora como um indivíduo inserido num conjunto, onde as trocas se tornam essenciais, que é o desafio dos Enamorados.

Percebe que tem toda a capacidade de ultrapassar obstáculos, de resistir e aprender com as frustrações, e então seguir em frente, com mais autodomínio, mais autocontrolo, o domínio do Carro.

E, assim, entra num segundo momento, em que já não se confronta com o outro, mas consigo mesmo, o caminho é agora muito mais interno, voltado para si mesmo.

A Força vem mostrar-lhe que os instintos, as emoções precisam ser trabalhadas, dominadas por forma a saber lidar com eles de forma construtiva, aquilo que ele domina não o destrói. E para que isso seja possível, ele precisa de se virar para dentro, olhar para dentro de si, tal como o Eremita, por forma a conhecer-se profundamente, e dessa forma reconhecer melhor o caminho, reagindo de forma ponderada às mudanças súbitas que a Roda da Fortuna promove, ajudando à sua adaptação e resiliência.


Percebe, na prática, que a Justiça é o reflexo das suas acções, é a colheita, essencial para que ele construa o seu próprio sistema de valores. Ainda que isso possa levar a crises, a questionamentos, ao Pendurado, das quais sairá mais crescido, mais preparado, pronto a intervir no mundo de uma forma completamente diferente, num novo ciclo marcado pela Morte, que leva não a um desassossego e medo, mas a uma esperança restabelecida, a uma Temperança, isto é, um estado de alma mais pacífico, essencial para continuar uma jornada que ainda tem muito de surpreendente.

Num último momento, o Louco faz uma jornada de pacificação do Eu, consigo mesmo e com o mundo que o rodeia. Ainda que com turbulência, será levado a encontrar o seu lugar.

Esta pacificação dá-se, em primeiro lugar, consigo mesmo, ao colocar em causa o ego e as armadilhas que este poderá promover na sua vida, distinguindo aquilo que é construtivo, daquilo que o poderá destruir, o Diabo que enfrenta é sobretudo interno, é a voz que alimenta o medo, que o faz hesitar, levando-o a desconstruir-se, a deixar cair velhas estruturas, deixar cair a Torre, para que a possa reconstruir mais forte, assente em sólidas fundações.

Este é um caminho, que muitas vezes foi orientado pela Estrela, que o fez aprender a ouvir a intuição, que o fez ser mais sensível às circunstâncias, valioso nos momentos de maior dúvida. As certezas não imperaram sempre, até porque, nos momentos de maior ansiedade, os medos e as ilusões bateram à porta, intensificados pela Lua, tornando-se excelentes oportunidades para serem resolvidos e sanados.

São condicionamentos latentes, que quando afloram encontram na luz do Sol a resolução por que esperava, tornando-o mais forte, capaz de se libertar de tudo aquilo que o poderia condicionar. Promove-se um Julgamento que o liberta de tudo o que é acessório, e lhe permite concentrar-se no essencial.

E nesta jornada o Louco transformou-se, conseguiu tornar-se na sua melhor versão. Aquele mais não é do que a representação de cada um de nós, que nos motiva a continuar até atingirmos a plenitude do Mundo, e recomeçarmos de forma mais plena, numa oitava acima.

Joana Fitas



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