Ana Sofia Silva

A Naturopatia na saúde da mulher

Por Ana Sofia Silva em Agosto de 2021

Tema Saúde / Publicado na revista Nº 22

Enquanto naturopata tenho vindo a deparar-me com algumas desordens recorrentes na saúde da mulher, que acarretam um mau estar físico e consequentemente emocional. Isto porque, obviamente, uma mulher com dores não vai sentir-se plenamente feliz e com energia para enfrentar os desafios do seu dia-a-dia.

Um dos principais desequilíbrios tem a ver com o aparelho reprodutor, como por exemplo: o tão conhecido TPM (tensão pré-menstrual). Contudo e infelizmente cada vez mais temos mulheres com outras patologias, nomeadamente: miomas e endometriose, que podem trazer consequências mais graves.




Hoje irei abordar o TPM, não só porque é muito recorrente, mas também porque conseguimos resolver ou atenuar os seus sintomas com algumas sugestões práticas.

A tensão pré-menstrual pode ocorrer uma a duas semanas antes da menstruação e é caracterizada por uma variedade de sintomas, que variam de mulher para mulher. Estes sintomas podem ir desde dores de cabeça, sensibilidade mamária, irritabilidade, ansiedade, mudanças de humor, retenção de líquidos, cólicas, fadiga, entre outros. Algumas mulheres podem apenas sentir um ou dois destes sintomas de forma leve, enquanto que outras podem sentir mais e de forma  intensa.

Todos os meses, as hormonas femininas seguem um ciclo de mudança previsível e uma certa alteração hormonal é perfeitamente normal e necessária, só quando essas alterações são muito mais acentuadas, aí sim, desencadeiam os sintomas associados anteriormente descritos. Regra geral acredita-se que a principal causa é, sem dúvida, o desequilíbrio hormonal, ou seja, excesso de estrogénio e deficiência de progesterona, que na maioria dos casos advém não só do uso da pilula anticoncecional, mas também de muitas substâncias químicas (alimentares e ambientais) que são desreguladores hormonais.

No entanto, poderá haver outras causas, nomeadamente: problemas de tiroide, deficiências nutricionais, função hepática diminuída, depressão, alterações alimentares, etc. Daí ser importante descartar todas as possibilidades, de forma a encontrarmos a real causa do problema e assim tratá-lo, restaurando o equilíbrio e o bem-estar.

Em relação ao tratamento, obviamente que será específico, de acordo com a causa associada, no entanto há alguns conselhos que podem ser aplicados na generalidade dos casos.

Assim, irei abordar 3 pilares importantes a ter em conta no tratamento do TPM: questões alimentares, desintoxicação e suplementação.




1. Questões alimentares

Uma alimentação muito inflamatória naturalmente vai intensificar os sintomas associados ao TPM.  Assim é importante reduzir alimentos ricos em açúcares e cereais refinados, leite e seus derivados, gorduras hidrogenadas (muito utilizadas nos alimentos processados), grandes quantidades de carnes (principalmente se não é biológica ou de pasto), refrigerantes, cafeína, etc.

Em contrapartida deve aumentar-se o consumo de vegetais e hortaliças, frutas, sementes e oleaginosas, carne ou peixe de boa qualidade, gorduras  que sejam fonte de ómega 3 ou GLA pelo poder anti-inflamatório que têm e leguminosas bem demolhadas e cozidas.

Essencialmente tem de ser uma alimentação anti-inflamatória, rica em nutrientes para o bom metabolismo do organismo.

2. Desintoxicação

Em Naturopatia o processo de desintoxicação é fundamental para a prevenção ou início de qualquer tratamento, pois vamos auxiliar o organismo de uma forma geral a metabolizar e excretar com mais eficácia.

No TPM este processo vai potenciar o fígado a metabolizar melhor o estrogénio e consequentemente a excretá-lo.

A desintoxicação pode ser feita através de pequenos períodos de jejum terapêutico, aliados à ingestão de infusões ou decocções (dependendo da parte da planta utilizada) de plantas que auxiliam o fígado (exemplo: dente-de-leão, cardo mariano, boldo) ou então plantas que reduzem a ansiedade, irritabilidade, dor (exemplo: passiflora e camomila) e ainda aumentar a ingestão de sumos de fruta e vegetais.

Muito importante a ingestão de água ao longo do dia, que se pode então alternar com as infusões e sumos de vegetais.

3. Suplementação:

A suplementação torna-se também um complemento de grande valor no tratamento do TPM. Muitas vezes a mulher tem deficiências nutricionais ou alterações hormonais muito acentuadas.

Em muitos casos temos mesmo de otimizar a função hepática com suplementos, quer de plantas como o cardo mariano, quer com substâncias como o indol-3-carbinol que vai auxiliar o fígado no metabolismo do estrogénio.

Plantas como o anho casto (Vitex), angélica chinesa e onagra vão ajudar muito na regulação estrogénio/progesterona, para além de que o onagra vai aliar com a sua ação anti-inflamatória. Importante: se está a tomar a pilula anticoncecional deve consultar um naturopata credenciado antes de iniciar algum tratamento com plantas que atuem a nível do estrogénio e progesterona.

A suplementação de nutrientes é fundamental ao organismo para colmatar possíveis deficiências. Nestes casos, a reposição de vitaminas do complexo B, magnésio, vitamina E e zinco são alguns exemplos a se ter em conta.

Por fim, gostaria de alertar para o facto que as alterações hormonais são cada vez mais a causa de doenças que levam inclusive à infertilidade e que não é normal sentir dor ou qualquer outro distúrbio durante o período menstrual. Torna-se assim imperativo à mulher ganhar nova consciência do seu corpo e restabelecer o seu equilíbrio.

Relembro ainda a importância de se consultar um naturopata credenciado, de forma a se prevenir efeitos indesejados de má suplementação ou alguma outra prática terapêutica e principalmente para que o tratamento seja sempre individualizado, de acordo com o seu historial clínico e o seu bem-estar físico e emocional.

Ana Sofia Silva





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