Iolanda Sousa

O Cão na Terapia Assistida por Animais em crianças com Paralisia Cerebral

Por Iolanda Sousa em Maio de 2021

Tema Sociedade / Publicado na revista Nº 20

A Paralisia Cerebral (PC) consiste num conjunto de alterações permanentes, e não progressivas, do controlo motor e da postura derivadas de lesões ocorridas no desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC), durante o período fetal ou lactente, sendo frequentemente acompanhadas por alterações de comportamento, comunicação, sensoriais, percetuais, cognitivas, epilepsia e problemas músculos-esqueléticos secundários. Afeta aproximadamente 2 em cada 1000 indivíduos sendo a patologia de desenvolvimento mais comum nas crianças.

De acordo com a localização das lesões e áreas do cérebro afetadas podemos classificá-la de Espástica (hemiparesia, tetraparesia, diplegia), Atetósica / Distonia, Atáxica e Mista.

Perante os diferentes quadros clínicos observados, diversas intervenções terapêuticas e terapias podem ser adotadas de forma a potenciar todo o desenvolvimento da criança com PC, nomeadamente a aquisição de competências motoras, cognitivas e sensoriais, independência funcional e autonomia promovendo a sua inclusão, saúde e qualidade de vida.

De encontro à concretização destes objetivos, a Terapia Assistida por Animais (TAA) apresenta-se como um método terapêutico coadjuvante e complementar à Terapia Ocupacional no tratamento de crianças com PC.

A TAA surgiu em 1792 na Inglaterra, no hospital psiquiátrico York Retreat. Consiste numa intervenção dirigida por objetivos, devidamente planeada e estruturada, na qual um animal, que obedece a critérios específicos, atua como mediador entre o terapeuta e o paciente, criando um elo entre ambos, sendo intencionalmente integrado no processo de tratamento terapêutico, como co-terapeuta, com o intuito de promover a melhoria das competências físicas, cognitivas, emocionais e sociais, promovendo o seu bem-estar. Aborda cinco mecanismos de ação: afetivo-relacional, estímulo psicológico, lúdico, psicossomático e físico.

Os cães devido à sua afeção natural pelas pessoas, facilidade de adestramento e por terem mais reações positivas ao toque, são comummente usados como recurso terapêutico na TAA, designando-se esta terapia de Cinoterapia. Qualquer raça de cão pode ser utilizada, porém a excelência no temperamento, tranquilidade, docilidade, obediência e sociabilidade fizeram do Labrador e do Golden Retriever as raças ideais nestas atividades terapêuticas.

A interação entre o Homem e o Cão e a relação terapêutica dessa junção   é conhecida há milhares de anos e reconhecida até hoje. Em várias culturas foram representados como seres supremos e poderosos, sendo venerados como sagrados e adorados como Deuses. Os Gregos acreditavam que os cães eram capazes de curar doenças, criando-os como terapeutas auxiliares nos seus templos de cura. Os Romanos registavam o poder de cura de cães, considerados sagrados e curadores da alma. Os animais são nossos companheiros desde a antiguidade e já no século XVIII participavam na intervenção terapêutica, como uma alternativa válida no desenvolvimento e bem-estar humano. Mas foi a partir de 1953, através de pesquisas do psicólogo infantil Boris Levinson e do seu artigo “O cão como co-terapeuta”, no qual descreve experiências da atividade assistida por cães com os seus pacientes, que o Cão assume a sua importância na TAA dando origem à Cinoterapia.

Na inclusão da Cinoterapia, como complemento da Terapia Ocupacional na reabilitação de crianças com PC, e através da definição de objetivos específicos aliado a um plano terapêutico adequado, propõem-se atividades com o cão de forma a estimular as competências motoras, cognitivas, atenção, memória, concentração, motricidade, estimulação sensorial (tátil, vestibular, propriocetiva), desempenho nas atividades da vida diária, autonomia e socialização, promovendo a sua integração social e qualidade de vida.

Para a obtenção destes objetivos temos como exemplo de atividades:

  • Acariciar o cão: estimulação sensorial, afetividade, o toque transmite calma à criança e reduz a ansiedade;
  • Escovar o cão: trabalhar aspetos como a coordenação, motricidade e a força muscular;
  • Passear o cão: trabalhar a marcha, equilíbrio;
  • Exercícios com cores, bolas, arcos, percursos: trabalhar a linguagem, a lógica, o raciocínio, a perceção da cor e formas, atenção e concentração, a motricidade, o equilíbrio, reações vestibulares ou a estimulação sensorial;
  • Exercícios de controlo da ação e do movimento dos cães através de comandos básicos como sentar ou deitar, o que confere às crianças uma sensação de controlo e realização.


A relação da criança com o Cão é uma relação de afeto e de segurança. Por serem animais de grande expressão e afetividade, promovem na sua interação com as crianças significativas respostas emocionais, ajudando no seu desenvolvimento afetivo e expressão de emoções. O autocuidado, a autoestima e a confiança, também podem ser estimuladas pela necessidade do cuidado que   elas devem ter com aquele ser, melhorando a comunicação e encorajando as crianças com dificuldades verbais devido à psicopatologia.

A Cinoterapia age assim como facilitadora da sociabilização, aumentando a motivação, participação e interação nas intervenções terapêuticas, trazendo tranquilidade, alegria e segurança. Estimula a criança e auxilia o terapeuta a alcançar os objetivos propostos para o tratamento.

Os animais são para as crianças uma fonte de amor incondicional e lealdade, têm poderes curativos e o contacto com um cão faz experienciar um conjunto de hormonas curadoras e químicas, que produzem sentimentos de paz e serenidade, diminuindo a ansiedade e reduzindo o impacto e stress gerado pela doença, permitindo às crianças com PC adquirir um sentido de identidade promovendo a sua independência.

"Dogs have a way of finding the people who need them, Filling an emptiness we don't even know we have." Thom Jones

Iolanda Sousa

Terapeuta Ocupacional




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