A Paralisia Cerebral (PC) consiste num conjunto de alterações permanentes, e não progressivas, do controlo motor e da postura derivadas de lesões ocorridas no desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC), durante o período fetal ou lactente, sendo frequentemente acompanhadas por alterações de comportamento, comunicação, sensoriais, percetuais, cognitivas, epilepsia e problemas músculos-esqueléticos secundários. Afeta aproximadamente 2 em cada 1000 indivíduos sendo a patologia de desenvolvimento mais comum nas crianças.
De acordo com a localização das lesões e áreas do cérebro afetadas podemos classificá-la de Espástica (hemiparesia, tetraparesia, diplegia), Atetósica / Distonia, Atáxica e Mista.
Perante os diferentes quadros clínicos observados, diversas intervenções terapêuticas e terapias podem ser adotadas de forma a potenciar todo o desenvolvimento da criança com PC, nomeadamente a aquisição de competências motoras, cognitivas e sensoriais, independência funcional e autonomia promovendo a sua inclusão, saúde e qualidade de vida.
De encontro à concretização destes objetivos, a Terapia Assistida por Animais (TAA) apresenta-se como um método terapêutico coadjuvante e complementar à Terapia Ocupacional no tratamento de crianças com PC.
A TAA surgiu em 1792 na Inglaterra, no hospital psiquiátrico York Retreat. Consiste numa intervenção dirigida por objetivos, devidamente planeada e estruturada, na qual um animal, que obedece a critérios específicos, atua como mediador entre o terapeuta e o paciente, criando um elo entre ambos, sendo intencionalmente integrado no processo de tratamento terapêutico, como co-terapeuta, com o intuito de promover a melhoria das competências físicas, cognitivas, emocionais e sociais, promovendo o seu bem-estar. Aborda cinco mecanismos de ação: afetivo-relacional, estímulo psicológico, lúdico, psicossomático e físico.
Os cães devido à sua afeção natural pelas pessoas, facilidade de adestramento e por terem mais reações positivas ao toque, são comummente usados como recurso terapêutico na TAA, designando-se esta terapia de Cinoterapia. Qualquer raça de cão pode ser utilizada, porém a excelência no temperamento, tranquilidade, docilidade, obediência e sociabilidade fizeram do Labrador e do Golden Retriever as raças ideais nestas atividades terapêuticas.
A interação entre o Homem e o Cão e a relação terapêutica dessa junção é conhecida há milhares de anos e reconhecida até hoje. Em várias culturas foram representados como seres supremos e poderosos, sendo venerados como sagrados e adorados como Deuses. Os Gregos acreditavam que os cães eram capazes de curar doenças, criando-os como terapeutas auxiliares nos seus templos de cura. Os Romanos registavam o poder de cura de cães, considerados sagrados e curadores da alma. Os animais são nossos companheiros desde a antiguidade e já no século XVIII participavam na intervenção terapêutica, como uma alternativa válida no desenvolvimento e bem-estar humano. Mas foi a partir de 1953, através de pesquisas do psicólogo infantil Boris Levinson e do seu artigo “O cão como co-terapeuta”, no qual descreve experiências da atividade assistida por cães com os seus pacientes, que o Cão assume a sua importância na TAA dando origem à Cinoterapia.
Na inclusão da Cinoterapia, como complemento da Terapia Ocupacional na reabilitação de crianças com PC, e através da definição de objetivos específicos aliado a um plano terapêutico adequado, propõem-se atividades com o cão de forma a estimular as competências motoras, cognitivas, atenção, memória, concentração, motricidade, estimulação sensorial (tátil, vestibular, propriocetiva), desempenho nas atividades da vida diária, autonomia e socialização, promovendo a sua integração social e qualidade de vida.
Para a obtenção destes objetivos temos como exemplo de atividades:
- Acariciar o cão: estimulação sensorial, afetividade, o toque transmite calma à criança e reduz a ansiedade;
- Escovar o cão: trabalhar aspetos como a coordenação, motricidade e a força muscular;
- Passear o cão: trabalhar a marcha, equilíbrio;
- Exercícios com cores, bolas, arcos, percursos: trabalhar a linguagem, a lógica, o raciocínio, a perceção da cor e formas, atenção e concentração, a motricidade, o equilíbrio, reações vestibulares ou a estimulação sensorial;
- Exercícios de controlo da ação e do movimento dos cães através de comandos básicos como sentar ou deitar, o que confere às crianças uma sensação de controlo e realização.
A relação da criança com o Cão é uma relação de afeto e de segurança. Por serem animais de grande expressão e afetividade, promovem na sua interação com as crianças significativas respostas emocionais, ajudando no seu desenvolvimento afetivo e expressão de emoções. O autocuidado, a autoestima e a confiança, também podem ser estimuladas pela necessidade do cuidado que elas devem ter com aquele ser, melhorando a comunicação e encorajando as crianças com dificuldades verbais devido à psicopatologia.
A Cinoterapia age assim como facilitadora da sociabilização, aumentando a motivação, participação e interação nas intervenções terapêuticas, trazendo tranquilidade, alegria e segurança. Estimula a criança e auxilia o terapeuta a alcançar os objetivos propostos para o tratamento.
Os animais são para as crianças uma fonte de amor incondicional e lealdade, têm poderes curativos e o contacto com um cão faz experienciar um conjunto de hormonas curadoras e químicas, que produzem sentimentos de paz e serenidade, diminuindo a ansiedade e reduzindo o impacto e stress gerado pela doença, permitindo às crianças com PC adquirir um sentido de identidade promovendo a sua independência.
"Dogs have a way of finding the people who need them, Filling an emptiness we don't even know we have." Thom Jones
Iolanda Sousa
Terapeuta Ocupacional
ARTIGO SUGERIDO
Mensagem de Kryon através de Lee Carroll
Publicado em 12 de setembro de 2009
Saudações, meus queridos, eu sou Kryon, do serviço ...
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