
Os Ritos de Passagem – Morte e Nascimento
Por Anandi Ana Isabel em Maio de 2022
Durante o sono profundo, a visita da Morte prepara-nos para a Passagem.
Ao adormecermos, deixamo-nos ir, escorregamos languidamente para a dimensão da existência incorpórea. E não nos atemoriza o que possa acontecer, pois sabemos que, algures, acontecerá o despertar. Nem nos ocorre nenhuma outra possibilidade.
Assim na Morte como no sono - devia ser o resultado da nossa aprendizagem, ao longo dos dias e noites da nossa Vida num corpo físico.
Do mesmo modo que não nos agarramos a trapos rotos e que já não resguardam o nosso corpo, também não devíamos agarrar-nos a um corpo que esgotou o seu tempo de uso.
E se o momento da Passagem surge no caminho, quando o corpo físico ainda tinha vida útil? Quantas das tuas roupas vestiste até estarem puídas? Porque é que as dispensaste? Por razões grandes e pequenas, por capricho e sem penas, por esquecimento até.
É assim tão simples?! Pois, o mal é a Vida deixar de ser simples. Tudo aquilo que já não é simples, na verdade, não tem serventia para uma vida natural, sadia e, portanto, tranquila.
A complexidade gera o desassossego, a confusão e o medo. Vestiste todo o teu vestuário e soçobras sob o seu peso, arrastando o pés sem alento. Tens muitas posses, vives para mantê-las, a Vida esquece-se de ti, passa-te ao lado, na leveza do seu despojamento.
É possível escolher o momento para partir? Sim, seria até... natural. Para o ser natural que vive com propósito e pelo sentimento, a luta interna cessou. O apego não agarra, o medo não faz negar, a confiança é plena e as escolhas são conscientes e respeitam as leis naturais até que o ser tenha atingido a plenitude e plane acima das leis e dos condicionamentos.
O corpo é um instrumento que permite agir no plano denso. Dentro do corpo, o espírito não pode operar de forma tão ampla quanto fora dele, por isso sim o corpo é um condicionamento, aceite para fazer um percurso na Terra física.
Num avião voas, num barco navegas e num carro deslocas-te sobre a terra. Num corpo físico és como um carro. Isso significa que não possas voar? Não, terias apenas de trocar o carro pelo avião.
Todas as noites, se entrares em sono profundo e repousante, tens a oportunidade de voar. Deixas o corpo físico em programa de regeneração e viajas em corpo energético ou etérico no qual fazes experiências e absorves conhecimentos que te fazem desenvolver ou degenerar. E retornas com o resultado dessa viagem que modifica todos os teus corpos ligados entre si pelo corpo etérico.
O que acontece na Vida e na Morte é análogo ao que acontece na Vigília e no Sono. Por isso dizem os sábios que consoante vivas, morrerás.
Se a cada dia aprenderes a viver de forma mais natural, a tua morte também será natural. Se em cada dia quiseres esquecer a morte, não te admires que a morte te apanhe numa esquina da vida, totalmente de surpresa. Daí que os sábios também digam que a Vida não é mais que uma longa preparação para a Morte.
A Morte, longe de ser um fim, representa o Epílogo da Vida que termina e a semente de um Recomeço. A Morte deve ser celebrada com alegria e esperança, tal como o nascimento da criança.
O Amor e os bons votos devem ser manifestados, tanto ao ser que morre, quanto ao que nasce, sem diferenciação. Ambos precisam de confiança e de estímulo positivo para a Passagem, ambos sentem temor ante o “mundo novo” e precisam ser sossegados com emissões de Amor e de Confiança.
Quando queres ajudar alguém, foca-te na necessidade desse ser. Quando despedes um ente querido que partiu do seu corpo, abençoa-o para a sua viagem, tem a bondade de não te pores em primeiro plano, porque é esse ser que está a passar “pelas provas”, pelos ritos de Passagem.
Perante o nascimento da criança, todos falam em murmúrio para não assustar o menino. Perante a morte de alguém, todos gritam e soluçam olvidados do ser que partiu e que tem de suportar o peso de tanta angústia e os medos irracionais. Faz sentido? Porque fazemos tantas coisas sem sentido? Porque nos esquecemos de... SENTIR.
A dessensibilização é fruto do embrutecimento do ser humano que não reflete e não questiona; que reage emotivamente às circunstâncias, consoante estas lhe produzam sensações de prazer ou de dor; que segue acarneirado e dormente a correria da manada.
Os olhos fixam-se no corpo sem vida que urge por longe da vista, para enterrar com ele a lembrança, a saudade e o peso da dor. Enquanto tal acontece, a um ritmo cada vez mais robótico e acelerado, o espírito é abandonado à tarefa de desligar os corpos subtis do corpo físico, sem amparo, sem aconchego, sem respeito, sem carinho; e ainda, sobrecarregado com a negatividade do ambiente e das ações desencadeadas em torno do corpo físico e sobre ele.
É tempo de pararmos... é tempo de refletirmos sobre o que fazemos. É tempo de compreender o valor dos ritos sabiamente tecidos, para solidariamente fazer-se face à fragilidade experimentada pelos seres humanos nos momentos de Passagem.
Anandi Ana Isabel
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