A Naturopatia na visão de alguns profissionais de saúde
Por Susana A. Oliveira em Agosto 2020
Naturopatia. Sabe o que é? Soa-lhe estranho o termo ou é-lhe familiar?! Ora, se lhe soa estranho, em segundos deixará de soar. Em tempos foi designada, pelo Dr. Benedict Lust, como uma ciência, uma arte e uma filosofia.
É “a ciência, a arte e a filosofia do tratamento da doença através do recurso aos meios naturais”. Foi desta maneira que Dr. Lust a descreveu e foi a designação que o Congresso Americano aceitou no ano de 1931.
Atualmente, a Naturopatia é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, desde 2013, pelo Estado português como sendo uma Medicina Tradicional que utiliza ferramentas naturais na prevenção e no tratamento das causas da doença, sem eliminar apenas os sintomas.
É também uma das Terapêuticas Não Convencionais (TNC) regularizadas em Portugal, em conjunto com a Osteopatia, a Medicina Tradicional Chinesa, a Homeopatia, a Fitoterapia e a Quiroprática.
O Naturopata não trata apenas a doença, trata o doente. Foca-se na pessoa como um todo e faz o diagnóstico analisando, claro, os sintomas apresentados pelo paciente, mas, também, analisando outros fatores tais como a sua dieta, a sua genética, o ambiente em que este vive, o estilo de vida que tem, o seu estado mental, emocional e até espiritual.
Uma vez realizado o diagnóstico e encontradas as possíveis causas para o desequilíbrio do corpo é prescrito um tratamento personalizado que tem como principal objetivo, segundo a Naturopata Vera Belchior, “a recuperação da saúde de forma natural” ao ser estimulada a capacidade regenerativa do próprio organismo.
Desta maneira, estimula-se essa capacidade utilizando, não fármacos, mas a alimentação, plantas medicinais, o exercício físico, a homeopatia, a aromoterapia, a hidroterapia entre outras técnicas de vias naturais que não produzem efeitos secundários ou apresentem qualquer risco para o paciente.
Todavia, apercebe-se que esta especialidade da medicina tradicional vive um tanto à margem e é mal compreendida, mas observa-se o reconhecimento do seu potencial, ainda que limitado. Contudo, “limites existem tanto na medicina convencional como nas terapêuticas não convencionais”, expôs Rute Gomes, enfermeira no Centro Hospitalar de Setúbal, com a qual a Espaço Aberto esteve à conversa.
Ainda que nos anos 90 e no inicio do século XX se tenha apurado uma crescente popularidade e aceitação no país e ainda que algumas sondagens de opinião, realizadas na altura, tenham frisado a Naturopatia como sendo a TNC mais procurada em Portugal, cerca de 20 anos mais tarde, a maioria dos profissionais de saúde com os quais conversamos conhecem esta especialidade, mas de uma forma muito superficial.
No entanto, aceitam-na e olham de mente aberta para ela, assim como para as restantes formas de medicina alternativa. Atualmente enfermeira Centro Hospitalar do Porto, Isa Campos trabalhou há cinco anos no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa e testemunhou médicos a aconselharem a pacientes oncológicos práticas medicinais não convencionais de forma a serem amenizados os efeitos secundários da quimioterapia, como por exemplo a fadiga, as náuseas e os vómitos. Acredita que as duas vertentes da medicina deviam andar sempre de mãos dadas, tal como Vânia Gregório, enfermeira no Centro Hospitalar de Setúbal e especialista de medicina tradicional chinesa, que defende a junção das duas, afirmando que “é sempre uma mais valia para os pacientes”.
Um ponto que parece ser comum em todos os testemunhos é a opinião de que a sociedade ainda não adquiriu uma certa predisposição para consultar naturopatas em primeiro recurso.
Uma das questões impostas foi se esta prática devia estar integrada no Sistema Nacional de Saúde. É de realçar que desde 1978 que a OMS recomenda essa integração. Tiago Sousa, enfermeiro em França – do Centre Hospitalier Intercommunal Castres-Mazamet -, é de acordo, expondo que assim os utentes teriam mais poder de escolha sobre como cuidariam da sua saúde. Diogo Neves, também ele enfermeiro, trabalha no Centro Hospitalar de entre Douro e Vouga e, é da mesma opinião – “Se estão regularizadas pelo Estado é porque há provas de que têm resultados”.
E então, porque não está integrada? Algum palpite? “Falta de rigor e ponto de discussão, pois não sei em que casos ou que tipo de pacientes beneficiariam mais obtendo um tratamento de naturopatia do que de um de medicina convencional ou de qualquer outra TNC”, explica o Dr. José Miguel Diniz, médico de clínica geral e investigador na FMUP. Parece que esta é uma das consequências da prescrição de tratamentos bastante personalizados ao paciente.
Dr. Diniz não vê grandes resultados fidedignos que levem a esta integração. Isa Campos e Diogo Neves pensam da mesma forma, mas a enfermeira acredita que a integração desta terapêutica no Sistema Nacional de Saúde aumentaria a sua procura o que potencializaria o fluxo de obtenção de resultados e por consequência a partilha dos mesmos. Outro ponto positivo seria que o Estado acabaria por não ter tantos gastos em fármacos.
E no que ao futuro diz respeito, os profissionais de saúde com os quais conversamos, via telefone (devido à pandemia na qual estamos a viver), acreditam que a chave para uma possível integração está na amostra de bons resultados, na continuação de um bom trabalho e na passagem de alguns anos onde a própria sociedade como um todo estará disposta a credibilizar a Naturopatia assim como as restantes TNC.
Em última instância, deixamos a nota de que foi difícil levar a nossa curiosidade e a nossa sede por esta investigação aos Centros de Saúde, uma vez que o seu acesso se encontra limitado, de acordo com as normas estabelecidas pela DGS.
Jornalista Susana A. Oliveira
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