
Fragmentos de uma Exploração SOLitária
Por Ana Pinheiro Torres em Fevereiro de 2023
Texto e obras de Ana Pinheiro Torres
As obras que venho produzindo ao longo dos anos revelam uma realidade interna que tenho necessidade de expressar por meio da arte. Hesito considerar-me uma artista, pelo menos no sentido profissional do termo, já que não vivo da minha arte nem tenho uma produção constante.
No meu processo criativo, ajo um pouco como a sibila, a quem cabia conhecer os oráculos, só que aqui é a pintura que toma a forma de um oráculo. Começo habitualmente com uma folha em branco e deixo que o processo aconteça, procurando sempre manter-me num estado de abertura e de esvaziamento muito semelhante ao estado meditativo. Como resultado, obtenho imagens que me ajudam a compreender e a aprofundar determinados movimentos internos, muito difíceis de exprimir de outra maneira.
Umas vezes, descubro significados que me tinham escapado, pequenas sincronicidades e mensagens; noutras, uma ideia que se anuncia ou algo que está por vir e que só mais tarde compreendo. Não me atenho às obras e sinto que já não me pertencem, assim que as termino. E acabo sempre por me surpreender quando por acaso as revisito, o que é raro. O mais importante, para mim, é que me abrem janelas na alma e me ajudam a respirar.
São meditações pictóricas acerca do invisível, da solitude e da experiência espiritual, fragmentos da minha exploração solitária.
O apelo da solidão, como dizia Thomas Merton “não é apenas para se imaginar solitário, para se viver como se fosse solitário, para cultivar a ilusão de que se é diferente, retraído e elevado. É um chamado a esvaziar-se. E neste vazio, o solitário não encontra pontos sobre os quais possa estabelecer um contraste entre si e os outros. Muito pelo contrário, apercebe-se, embora talvez confusamente, que penetrou numa solidão que é de facto partilhada por todos“; creio que assim é. Inesperadamente, o mais profundo sentimento de União surge ao longo do percurso solitário, num momento preciso que não escolhemos. Nesse instante termina o nosso isolamento e realmente nunca mais nos sentimos sós.
Ana Pinheiro Torres nasceu no Porto em 1967 e reside em Évora. É licenciada em Arte e actualmente trabalha na área editorial, traduzindo obras literárias, textos de arte e cultura, e criando ilustrações para livros.
www.linkedin.com/in/anapinheirotorres
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