
Se pararmos dois minutos para absorver tudo o que engloba esta palavra, vamos ficar invadidos por uma profunda energia de gratidão, que não deixa de ser comovente. Não só aquilo que cada uma representa na nossa vida, mas por todo o legado espiritual que foi sendo construído, desde os primórdios da humanidade: cada mãe representa força, energia, emoção, proteção, cuidado, aceitação incondicional.
Para A comemorarmos, proponho uma viagem junto à Divindade, para percebermos de que forma a Deusa-Mãe sempre esteve presente, até mesmo enquanto modelo, como representação da vida, do amor, da nutrição. Sempre ao lado das necessidades, sem se deixar afetar, no seu papel – mesmo quando passamos de um conceito mais matriarcal, para um outro, mais patriarcal.
A fé e o culto tendem a perder-se com a origem dos primeiros hominídeos, embora as referências que nos chegaram dão-nos a certeza do culto ao feminino, enquanto gerador de vida, que fomentava a vida da terra (agricultura), das águas, da vida humana. Basta recordarmos as deusas Vénus, robustas e de formas exageradas, terá sido talvez a primeira divindade, a quem tenha disso prestado culto, que nos tenha chegado, através das estatuetas, e a quem era prestado tributo a fim de que a natureza fosse próspera e alimentasse todas as necessidades.
Mas a uma Mãe podem ser dados mil nomes, e talvez tenha sido mesmo isso que aconteceu, e nas suas aparentes diferenças, a essência foi sempre a mesma:
- Os sumérios e babilónicos cultuavam Tiamat, que era associada ao poder nutridor da água, o oceano, e que deu origem a tudo, seria a mãe dos elementos.
- Ishtar, na Mesopotâmia, Inanna para os Sumérios, era a deusa da guerra, do amor e do sexo, convergia em si a construção e a defesa, que poderia resultar em destruição, num processo contínuo de criação.
- Pinikir, para os elamitas (Elão), que se assume ser a deusa da criação e do amor, mas também do sexo e da guerra.
- Para os celtas, Dana (ou Anann) era a deusa mãe da terra, o princípio feminino da vida, possivelmente ligada à fertilidade e ao conhecimento.
- Astarte para os fenícios, a mais importante deusa, ligada à lua, à fertilidade, à sexualidade e, também, à guerra.
- Ísis, com um papel muito importante no panteão egípcio, ligada à maternidade, e considerada a deusa-mãe dos faraós – daí as representações em que surge a dar de mamar aos governantes, o leite capacitava-os, de alguma forma, do direito de governação; era, ainda, vista como alguém capaz de dar ou devolver a vida, o que fez com fosse responsável pela ressurreição de Osíris – reconhecida como detentora de poderes mágicos aliado a uma grande inteligência.
Na mitologia egípcia há várias versões, desenvolvimentos, sobre a origem ou os objetivos dos deuses, e, na sua evolução, Ísis vai ganhando cada vez maior força e destaque, como nutridora, e, também, disciplinadora, que terá passado por uma gravidez difícil para dar à luz Hórus, e tem a capacidade de se dar com os humanos, ganhando fama de se comover com a dor e tentar aliviá-la.
Os romanos tinham Magna Mater, que pode estar ligada a Cibele, originária da Frígia, a mãe dos deuses, símbolo de fertilidade e ligada à morte e renascimento, por ter sido responsável pela ressurreição do filho, estando também ligada ao poder militar, por prover a protecção.
Não podemos, ainda, esquecer que a sustentar a nossa existência, e a permitir que hoje façamos a devida vénia ao Sagrado Feminino, temos Gaia, deusa grega, Mãe-Terra, geradora de todo o tipo de vida, que gerou sozinha o Céu, o mar, as montanhas, e gerou aquele que seria o seu parceiro, igual em qualidade Úrano, com quem formou o lar dos deuses. Na mesma linha, para os védicos Prithivi, a mãe de todos os deuses, seria também a mãe da terra.
Embora muito mais centrada no masculino, pelo menos desde Abraão, também o Cristianismo nos traz a Mãe, aquela que terá trazido Cristo à vida, e que, de alguma forma, acolhe as mães que se reconhecem no seu amor, no sofrimento por que terá passado, o que a torna a melhor confidente, e o melhor colo ao qual recorrer. O colo da Mãe.
Maria é Nossa Senhora da Conceição, o modelo de mãe, imaculada pelo seu destino como mãe de Cristo. Nas religiões de matriz afro-brasileira, encontramos o seu paralelo em Oxum, senhora das águas doces, da sabedoria, da beleza feminina, da fertilidade, da maternidade; e em Iemanjá, cujo nome significa “mãe cujos filhos são como peixes”, mãe dos orixás e de todos os adultos.
Percebemos, assim, de todos os nomes que lhe possamos dar, Mãe é talvez aquele que melhor reflecte a sua importância e alcance, a capacidade única de promover a vida, de nutrir, de cuidar e amparar, sem complicações, com um jeito único que só se reconhece numa Mãe, sem julgamentos, e com um amor que é só infinito. Pode assumir mil nomes, mas um só sentido, que é único e inexplicável.
Joana Ribeiro Fitas
Um texto feito com a inspiração de todo o feminino, de todas as Mães, que me acompanham, e a quem sou tão grata(Recurso a bibliografia auxiliar, nomeadamente: dicionário online Britannica; JORDAN, Michael, Dictionary of Gods and Goddesses, seconde Edition. Nova Iorque: Ver. Ed. 1993, NEUMANN, Erich – The Great Mother – na analysis of the archetype. Princeton University Press, 2015)
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