Em mim habita cansaço, Jesus. 

Cansaço de uma vida trilhada, transbordante de trilhos de ilusão. 

A credulidade é epidérmica, e preciso por isso continuar a confiar. 

Afinal, quem no meu caminho foi inconfiável, não pode abalroar aquilo em que acredito.

Em mim habita cansaço, Jesus.

Cansaço de ver um mundo imundo, de sentir a mentira a correr nas veias desta humanidade, e sem saber como com tudo isto lidar.

A alma também nos conta histórias, e é esta hoje que a minha alma precisa de te contar.

Já vive cenários de guerra e paz profunda.  

Já perdi batalhas.

Precisei aceitá-las como perdidas, retirando delas o crescimento que os seus estilhaços me deixaram na pele. 

Vivi mundos e submundos, vidas sem vida e mortes abençoadas.

Quantas travessias existem ainda para atravessar, quanta solidão para acompanhar, quantas mágoas para curar, quantas traições para integrar? 

Seremos nós realmente feitos de amor?

Da verdade, que falaste à humanidade, tão pouco dela posso neste momento observar.

A compaixão, a integridade, a consciência, parece nos homens não habitar.

Não sabemos perdoar, nem sequer como isso se faz.

Usamos quem nos ama e amamos quem nos usa.

Distorcidos e vazios, caminhamos em direção a nada.

Dar a outra face, confunde-nos e confusos preferimos ser nós a dar o estalo.  

Em mim habita cansaço, Jesus.

Enquanto humanos tão desumanizados, mostra-nos por favor o caminho da Luz e não mais o da cruz.

- Sabes, filha, se escutares a história da tua alma, perceberás que entre estes dois caminhos, não há diferença, pois no fundo, são apenas UM. 

Aquele a que chamas o caminho da cruz, conduzir-nos-á ao caminho da Luz. 

Quando, apesar do caos, ambos são aceites e integrados, iluminarão com amor o nosso espírito e a sacralidade da vida que em nós habita. 

Não temamos, pois, a cruz, a sombra, a escuridão e a luz.

Afinal, se as olharmos bem nos olhos, todas têm o seu brilho, a sua beleza e o seu propósito! 

Com amor e votos de muita prosperidade para a revista 

Cristina Leal