
Os Princípios Fundamentais da Nova Era (Parte II)
Por Daniel Faria em Dezembro de 2022
Como foi dito, a Nova Era tem como caraterística essencial ser uma rede livre e descentralizada de vários indivíduos, grupos e movimentos.
Apesar de imensa diversidade no âmbito da Nova Era, podem ser identificadas algumas ideias fundamentais comuns, que foram sintetizadas por William Bloom:
- Toda a vida, toda a existência, é a manifestação do Espírito, do Incognoscível, daquela suprema Consciência conhecida com muitos nomes nas diferentes culturas.
- O propósito e a dinâmica de toda a existência é manifestar o amor, a sabedoria e a iluminação.
- Todas as religiões são a expressão da mesma realidade interior.
- Toda a vida – tal como é percebida pelos sentidos humanos ou por instrumentos científicos – é apenas o véu externo de uma realidade invisível, interior e causal.
- Igualmente, os seres humanos são criaturas dúplices com: 1) uma personalidade temporária transitória exterior e 2) um ser interior pluridimensional (alma ou eu superior).
- A personalidade exterior é limitada e tende para o amor.
- O objetivo da encarnação do ser interior é conduzir as vibrações da personalidade exterior para uma ressonância de amor.
- Todas as almas encarnadas são livres de escolher o seu caminho espiritual.
- Os mestres espirituais são aqueles seres cuja alma está livre da necessidade de encarnar expressam amor incondicional, sabedoria e iluminação. Alguns destes grandes seres são bem conhecidos e inspiraram as religiões do mundo. Outros são desconhecidos e operam de forma invisível.
- Toda a vida, nas suas diferentes formas e estados, é energia interdependente, incluindo os nossos atos, sentimentos e pensamentos. Os seres humanos colaboram com o Espírito e com estas energias na criação da realidade.
- Embora sustentados pela dinâmica do amor cósmico, os seres humanos são responsáveis pela nossa condição, pelo nosso ambiente e por toda a vida.
- Na atualidade, a evolução do planeta e da humanidade chegou a um ponto em que vivemos uma profunda mudança espiritual na nossa consciência individual e coletiva. Por isso fala-se de uma Nova Era. Essa nova consciência é o resultado de uma encarnação cada vez mais bem-sucedida do que alguns chamam de energias do amor cósmico. Essa nova consciência manifesta-se numa compreensão instintiva da sacralidade de toda a existência e, em particular, da sua interdependência e da sua inter-relação.
- Esta nova consciência e esta nova compreensão da interdependência dinâmica de toda a vida são os principais sinais do desenvolvimento de uma cultura planetária completamente nova.
Neste sentido, serão abordados de forma mais detalhada alguns conceitos espirituais fundamentais, ao abrigo da espiritualidade da Nova Era.
O Divino
De acordo com a espiritualidade da Nova Era, o Divino é a Energia Infinita, a Fonte que continuamente gera, manifesta e sustenta tudo o que existe.
Por detrás do que é visível ou invisível, existe uma Realidade absoluta, eterna, ilimitada e ilimitada.
Há uma unidade cósmica entre o Divino e o universo, entendido como tudo o que existe, a soma do espaço e do tempo e das mais diversas formas de matéria. Esta unidade é compreendida de forma monista, panteísta ou panenteísta.
A visão da Nova Era sobre o Divino afasta-se do teísmo clássico, que considera que Deus e o universo são independentes, distintos e separados.
O panteísmo considera que não há fora da existência do Divino. Tudo é Deus e Deus é tudo. Preconiza que Deus e o universo são idênticos e que o universo é a manifestação da essência e o modo necessário da existência de Deus. De acordo com o panteísmo, não há nenhuma diferença. A Terra é Deus, o espaço intergaláctico é Deus e o ser humano é Deus.
O panenteísmo preconiza que Deus é simultaneamente imanente e transcendente. O Divino está em tudo e tudo o que existe está no Divino. O Divino e o universo são diferenciados, mas não estão separados. Estão abertos um ao outro. O Divino interpenetra todas as partes do universo, mas simultaneamente se manifesta para além dele. Deus é visto como a força eterna que anima o universo, sendo este último a manifestação de Deus. Enquanto o panteísmo afirma que tudo é Deus, o panenteísmo vai além ao afirmar que Deus é infinitamente maior do que o universo.
A conceção do Divino na Nova Era pode ser elucidada através da comparação com a luz, um conceito que é muito valorizado na espiritualidade da Nova Era. Quando a luz passa por um prisma, desdobra-se numa diversidade imensa de cores. As cores podem ser distintas uma das outras, mas têm a mesma fonte. Contudo, o que parece distinto e separado é na verdade uma realidade única.
A superação do teísmo clássico, muito presente nas religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islão), pode ser considerado como uma revalorização de um ensinamento ancestral. Os nossos antepassados ditos pré-históricos acreditavam que todas as coisas partilhavam a mesma essência. Durante dezenas de milhares de anos, os humanos entendiam a Terra como como organismo vivo e como a manifestação da Grande Divindade. A unidade entre o Divino e o universo tem sido igualmente valorizada pelas linhagens místicas das diversas tradições religiosas e por correntes filosóficas, desde o neoplatonismo da Antiguidade, onde pontificaram figuras como Amónio Sacas, Plotino e Hipátia, à filosofia de Baruch Spinoza (1631-1677), pensador holandês descendente de judeus portugueses.
A Nova Era preconiza a crença numa pluralidade de entidades não humanas, como os anjos e os mestres, que tem um papel de mediação entre os seres humanos e o Divino.
De acordo com a Nova Era, a energia divina, quando é acolhida conscientemente pelos seres humanos, costuma ser descrita como a energia ou consciência crística. Cristo é a inteligência divina infinita, presente em tudo o que existe. A consciência crística é a expressão viva do Amor Divino, ao mesmo tempo transcendente e imanente. É a consciência divina universal e a unidade com Deus, manifestada pelos grandes mestres espirituais e que todos nós somos convidados a manifestar. Jesus é considerado como uma das figuras históricas nos quais a natureza de Cristo ou a consciência crística foi revelada. Sidhartha Gautama foi outro exemplo relevante de manifestação da consciência crística. Cada realização histórica do Cristo cósmico mostra que todos os seres humanos são divinos e os conduz a essa realização.
O Cosmos
No âmbito da cosmovisão da Nova Era, assume uma relevância especial a passagem de um modelo mecanicista da física clássica para a modelo holístico e organicista da física quântica, baseada na conceção da matéria composta por ondas. O cosmos é entendido como um todo interdependente.
Toda a existência é considerada como manifestação do Espírito, a Fonte incognoscível, a Consciência suprema, que é denominada com nomes diversos nas diferentes culturas.
Se o Cosmos é a rede interconectada de toda a existência, todos os níveis de existência – mineral, vegetal, animal, humano, cósmico e divino – são interdependentes.
De acordo com a visão da Nova Era, o cosmos é a manifestação do Divino. O cosmos é caraterizado por um processo evolutivo que vai da matéria inerte à fusão com o Divino. O futuro do cosmos conduz à unidade divina reconciliada de tudo o que existe.
A Nova Era valoriza uma relação estreita entre a espiritualidade e a ciência, valorizando uma visão organicista do universo. Existe um número crescente de cientistas que valoriza a aproximação entre a ciência e a espiritualidade, inclusive na linha da Nova Era. Podem ser mencionados os casos de David Bohm (1917-1992), Karl Pribram (1919-2015), James Lavelock (1919-2022), Amit Goswami (n. 1936), Fritjof Capra (n. 1939) e Rupert Sheldrake (n. 1942).
Neste âmbito, merece destaque a Hipótese de Gaia, formulada por James Lavelock, segundo a qual o planeta Terra é um organismo vivo e capaz de autorregulação.
A condição humana
Os seres humanos são seres espirituais. Uma ideia comum da Nova Era sustenta a existência de um "Eu Superior" que é uma parte do ser humano, mas se conecta com a essência divina mais profunda. A crença da Nova Era que os seres humanos nascem com uma centelha divina, lembra o gnosticismo da Antiguidade. A centelha divina liga os seres humanos à unidade do Todo, porque são essencialmente divinos, embora participem da divindade cósmica segundo diferentes níveis de consciência. Os seres humanos são considerados como cocriadores da realidade, incluindo da sua realidade pessoal.
A Nova Era tem uma convicção profunda na perfetibilidade da pessoa humana, através de um conjunto de técnicas e terapias.
Para a Nova Era, o pecado é considerado como uma consciência imperfeita, que pode ser superado através de técnicas especiais e das boas ações, que podem acelerar a evolução do ser humano. Todos os seres – incluindo a humanidade – orientam-se para a união com o Divino.
A reencarnação tem um papel relevante nesta visão de evolução espiritual progressiva do ser humano, sendo considerada como um processo de desenvolvimento e de aprendizagem do ser humano, sendo a morte entendida como uma transição para outros planos. Após a morte física, acredita-se que o espírito deixa o corpo e viverá novamente noutro corpo humano. Cada vida é vista como um tempo de preparação para a próxima vida, levando a uma perfeição crescente em direção ao Divino.
As práticas espirituais
As práticas espirituais desempenham um papel da maior relevância nas diversas linhagens da espiritualidade humana. A Nova Era não é exceção.
Com efeito, as práticas espirituais têm um impacto profundo na promoção do desenvolvimento espiritual do ser humano e na sua caminhada em direção a uma conexão crescente com o Divino.
A espiritualidade da Nova Era dá uma grande ênfase ao fenómeno conhecido como channeling ou canalização, que está ligado à mediunidade, uma experiência humana de alcance universal. No âmbito deste processo, os praticantes, denominados de médiuns, atuam como canais de informações oriundas de outros seres, nomeadamente entidades que vivem num nível de consciência espiritualmente superior. A espiritualidade da Nova Era faz alusão frequentes a seres espirituais não humanos que estão empenhados no desenvolvimento espiritual da humanidade, tais como os anjos, os mestres ascensos e os espíritos da natureza.
De acordo com a Nova Era, as ações humanas são o resultado tanto da iluminação como da ignorância. Dai resulta a importância de desenvolver boas vibrações, o que passa por desenvolver atitudes mentais com vibração elevada. Neste sentido, preconiza que a resposta à negatividade é o amor, considerado como uma vibração de elevada frequência, e que a abundância e a felicidade passam pela sintonia energética com o Todo.
O tema da saúde ocupa um lugar fundamental na Nova Era, que considera que a saúde é o estado natural do ser humano. A Nova Era tem uma visão holística da saúde, abrangendo os aspetos espirituais, mentais e físicos do ser humano. De acordo com a Nova Era, a doença é um estado de desequilíbrio destes aspetos e de uma relação de desarmonia do ser humano com a natureza e o Todo. Neste sentido, critica a medicina ocidental alopática convencional, por estar focada essencialmente no tratamento das doenças e por ter uma compreensão fragmentada do ser humano.
Existe uma grande variedade de práticas conducentes à promoção da saúde holística, algumas derivadas de tradições antigas, outras desenvolvidas nas últimas décadas. Entre as principais práticas de cura promovidas pela Nova Era, podem ser referidas as seguintes: o yoga, a meditação, a astrologia, o reiki, a cristaloterapia, a numerologia, a acupuntura, a medicina ayurvédica, a fitoterapia, a cura xamânica, a psicologia transpessoal, as leituras de aura, a radiestesia, as constelações familiares, a consulta dos registos akáshicos, o tantra, etc.
Em todo o caso, a Nova Era considera que a fonte de cura está dentro de nós e que podemos alcança-la quando aprimoramos a conexão com a nossa essência.
Com efeito, um dos pilares da espiritualidade da Nova Era é a busca do holismo. Isto incentiva a superação das diversas formas de dualidade entre o sujeito e o objeto, a vida e a morte, a mente e o corpo, o eu superior e os aspetos fragmentários do eu. A humanidade está presente no cosmos como parte da rede interdependente de toda a existência. Por conseguinte, quando o ser humano compreende o seu papel no cosmos, compreende tudo o que existe está interconectado e interdependente.
Daniel José Ribeiro de Faria
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