Vasco Romãozinho

Fitoterapia – as antigas tradições de cura combinadas com os avanços científicos mais atuais

Por Vasco Romãozinho em Outubro de 2022

Tema Saúde Natural / Publicado na revista Nº 29

O uso de plantas medicinais é tão antigo quanto a própria humanidade.

Sendo que a mais antiga evidência escrita do uso de plantas medicinais foi encontrada numa laje de argila suméria de Nagpur, com aproximadamente 5.000 anos. 

Os Vedas, livros sagrados do hinduísmo datados entre 1500 a 2000 a.C., mencionam numerosos tratamentos com plantas medicinais.

O Papiro Ebers, um dos tratados médicos mais antigos e importantes que se conhece e datado de aproximadamente 1550 a.C., refere plantas medicinais como o aloé, o sene, o alho, o salgueiro, o zimbro, entre outras.

As obras de Hipócrates (459-370 a.C.) contêm 300 plantas medicinais classificadas por ação terapêutica.

Tanto a Bíblia como o livro sagrado judaico o Talmud, descrevem tratamentos com plantas medicinais como a murta ou o incenso, entre outras.

Na história antiga, o escritor mais proeminente sobre plantas medicinais foi Dioscórides, médico militar do exército de Nero e pai da farmacognosia através da sua obra “De Materia Medica”, a principal fonte de informação sobre plantas medicinais desde o século I até ao final da Idade Média e Renascimento.

Originalmente e ao longo da história, cada região no mundo sempre utilizou as plantas medicinais nativas dessa mesma região. 

Hoje em dia e no mundo global em que vivemos, a Naturopatia passou a fazer uso de plantas medicinais das mais diferentes proveniências, desde as Américas a Africa, passando pela India e China, o que veio a conferir ainda mais valor e riqueza à Fitoterapia moderna. 

Rhodiola (Rhodiola rosea)

Também conhecida como Raiz Dourada, a Rhodiola rosea pode ser encontrada em climas frios correspondentes às regiões do Ártico e montanhas de grande parte da Europa como os Alpes, Pirenéus, Cárpatos, ilhas britânicas, Escandinávia e Islândia, onde é relatado que os vikings consumiam a sua raiz para lhes dar força e resistência.  

Na Grécia antiga, Dioscórides menciona no seu tratado “De Materia Medica”, uma planta à qual denominou rodia riza, tratando-se, possivelmente, desta mesma espécie. 

Mais tarde, a Rhodiola foi também mencionada em diferentes matérias médicas de vários países europeus, sendo uma delas a de Lineu em 1749 que reconhecia o seu uso em casos de cefaleias, histeria, hérnias ou leucorreia. 

A Rhodiola aparece ainda na primeira edição da farmacopeia da Suécia em 1755.   

Validação Científica 

Segundo Mark Cropley et al. Phytother Res. 2015, o presente estudo teve como objetivo avaliar a ação do extrato de Rhodiola rosea na ansiedade, stress, cognição e outros sintomas psicológicos.

81 participantes com ansiedade moderada foram randomizados em dois grupos: Rhodiola rosea vs placebo.

Em relação ao grupo controle, o grupo tratamento demonstrou uma redução significativa nos sintomas de stress e ansiedade ao fim de 14 dias. 

Em relação aos restantes fatores psicológicos, o grupo tratamento também demonstrou uma redução nos níveis de irritação, confusão mental e depressão em relação ao grupo controle.

Ao nível da função cognitiva, nenhuma redução no processamento cognitivo foi observada no grupo tratamento.

Assim, foi concluído que a Rhodiola rosea é bem tolerada e eficaz no tratamento do stress e ansiedade moderados, além de reduzir os níveis de irritação, confusão mental e depressão.






Harpagófito (Harpagophytum procumbens)

Originaria das savanas da Namíbia, Botswana e África do Sul, o Harpagófito foi introduzido na Europa pelo soldado alemão G.H. Mehnert em meados de 1900, após este a ter descoberto através do estudo da medicina nativa local praticada pelos bosquímanos da Namíbia.

Presentemente o Harpagófito é indicado para reduzir a inflamação e a dor sobre o sistema locomotor.  

Validação Científica 

Segundo D Leblan et al. Joint Bone Spine. 2000, o objetivo do presente estudo foi avaliar a eficácia e segurança do Harpagophytum no tratamento da osteoartrite da anca e do joelho, comparativamente com o medicamento Diacereína.

Nesse sentido foi realizado um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, de grupos paralelos com 122 pacientes com osteoartrite da anca e/ou joelho. 

Após quatro meses, foram observadas melhorias consideráveis nos sintomas de osteoartrite em ambos os grupos, sem diferenças significativas para dor ou incapacidade funcional. 

No entanto, o uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides foi significativamente mais reduzido no grupo Harpagophytum, que também teve uma taxa significativamente menor de eventos adversos. 

Assim, foi concluído que o Harpagophytum foi pelo menos tão eficaz quanto o medicamento de referência (Diacereína) no tratamento da osteoartrite da anca ou joelho e reduziu a necessidade de terapia analgésica e anti-inflamatória não esteroide.

Cimicifuga (Cimicifuga racemosa)

Originária do Canadá e E.U.A, a Cimicifuga racemosa era usada pelas tribos nativas dessas regiões para facilitar o trabalho de parto, já que aumenta as contrações uterinas.

Os primeiros colonos europeus ao observarem esses usos, passaram a utilizar a Cimicifuga nas suas próprias práticas medicinais como tónico para apoiar a saúde reprodutiva das mulheres. 

Hoje em dia a Cimicifuga racemosa é utilizada como alternativa natural à Terapia de Reposição Hormonal (TRH), já que trata sintomas da menopausa como afrontamentos, cefaleias, palpitações cardíacas, irritabilidade, insónias e depressão.   

Validação Científica  

 

Segundo Mesut Oktem et al. Adv Ther. 2007, a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é a principal modalidade de tratamento para o alívio dos sintomas da menopausa. 

No entanto, a TRH está associada a um aumento do risco de trombose e cancro da mama, o que leva muitas mulheres na pós-menopausa a procurar estratégias naturais como forma de controlar os seus sintomas. 

A Cimicifuga racemosa foi aprovada pela Comissão E alemã para o tratamento do desconforto pré-menstrual, dismenorreia e sintomas neurovegetativos da menopausa.

Assim, o objetivo do presente estudo randomizado e controlado, foi avaliar a eficácia da Cimicifuga racemosa vs Fluoxetina no tratamento de mulheres com sintomas de menopausa. 






Nesse sentido, um total de 120 mulheres com sintomas de menopausa foram aleatoriamente designadas para 1 de 2 grupos: Cimicifuga racemosa ou Fluoxetina.

Sendo concluído que a Cimicifuga racemosa reduziu significativamente a intensidade dos sintomas de menopausa em comparação com a Fluoxetina.

Astrágalo (Astragalus membranaceus)

Nativo da China e Mongólia onde é conhecido como Huang qi que significa “líder amarelo”, o astrágalo desfruta de uma longa e rica história de utilização na cultura asiática, tendo sido registrado pela primeira vez na Matéria Medica de Shen Nong, o Imperador Vermelho, há cerca de cinco mil anos atrás. 

Na Medicina Tradicional Chinesa onde é considerada uma das 50 plantas fundamentais da sua fitoterapia, as raízes de astrágalo são usadas para promover a saúde e revigorar o Qi (força/energia vital). 

No ocidente, o astrágalo começou a ser usado nos anos 1800 como agente imunomodulador, adaptogénico e no tratamento de doenças cardiovasculares.

Validação Científica 

Segundo Hong-Wen Chen et al. Clin Invest Med. 2012, no presente estudo duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, foram investigados os efeitos do Astragalus membranaceus na fadiga relacionada com o cancro de estágio avançado.

90 pacientes com cancro avançado foram aleatoriamente escolhidos para um dos dois grupos: o grupo tratamento ativo (45 pacientes) ou o grupo placebo (45 pacientes).

No primeiro ciclo de quatro semanas, a administração de Astragalus membranaceus resultou numa taxa de melhoria da fadiga relacionada com o cancro maior do que a observada no grupo placebo. 

Além disso, aproximadamente 82% dos pacientes que relataram melhoria nos sintomas de fadiga após o primeiro ciclo de Astragalus membranaceus, experimentaram benefícios sustentados após a administração do segundo ciclo de tratamento. 

Entre os pacientes tratados com Astragalus membranaceus que não relataram melhoria dos sintomas ao longo do primeiro ciclo de tratamento, aproximadamente 71% apresentaram melhoria significativa após o segundo ciclo de tratamento.

Assim foi concluído que o Astragalus membranaceus pode ser um tratamento eficaz e seguro no alívio da fadiga relacionada com o cancro de estágio avançado.   

Brahmi (Bacopa monnieri)

Brahmi, cujo significado literal é “o que expande a consciência”, é uma palavra em sânscrito derivada de “Lord Brahma”. 

De acordo com a mitologia hindu, Brahma é um dos principais deuses do hinduísmo que juntamente com Shiva e Vixnu formam a trimúrti, a trindade divina do hinduísmo. 

Brahma é considerado, pelos hindus, a representação da força criadora pois é o deus que recria todo o universo após este ter sido destruído por Shiva.    

Nativa da Índia, a Bacopa monnieri aparece descrita pela primeira vez há milhares de anos em livros sânscritos antigos como o Caraka Samhita (2500 a.C.) e o Susrata Samhita (2300 a.C.).

Esses textos categorizam a Bacopa monnieri como Medhya Rasayana (Medhya significa intelecto; Rasayana significa rejuvenescimento).

Assim, a Bacopa é conhecida por melhorar a memória, aumentar a circulação sanguínea no cérebro e contrariar o envelhecimento prematuro. 

Validação Científica 

Segundo Chuenjid Kongkeaw et al. J Ethnopharmacol. 2014, os inibidores da colinesterase continuam a ser os fármacos de primeira linha para a demência vascular e doença de Alzheimer, embora estes medicamentos tenham demonstrado resultados insatisfatórios pelos significativos efeitos adversos que provocam e por não modificarem a progressão da doença a longo prazo.

A Bacopa monnieri tem vindo a ser utilizada há mais de 3.000 anos pela medicina Ayurveda, apresentando efeitos benéficos no desempenho cognitivo e proteção contra a toxicidade beta-amiloide.

Na realização da presente revisão sistemática e meta-análise de estudos randomizados e controlados, nove estudos com 518 pacientes preencheram os critérios de inclusão. 

Sendo concluído que a Bacopa monnieri apresenta potencial para melhorar o desempenho cognitivo. 

Naturopata Vasco Romãozinho






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