A nossa meta é a obtenção do quinto elemento, porque o quatro já nós o conhecemos: os quatro ângulos do espaço, os quatro pontos cardeais, o “quaternário”. O “quadrado” por si vê as coisas de forma quadrada. Necessitamos de uma dimensão metafísica, espiritual. É aí que entra o quinto elemento (o que dá profundidade), que os orientais, os alquimistas chamaram éter. Não interessa tanto o nome, mas sim que esse quinto elemento é o elemento espiritual.
Os Templários também deixaram outros símbolos que todos nós conhecemos. Um deles é o famoso medalhão com dois cavaleiros numa montada, símbolo da pobreza inicial da Ordem, já que os cavaleiros templários, à semelhança de todos os movimentos espirituais, começaram realmente com muitas dificuldades. Mas há um outro simbolismo por detrás desse, que é a representação de dois mundos, de duas missões; representa a dualidade esotérico/exotérico, espiritual/material. Os Templários tinham uma missão exotérica (exterior), pública, que satisfazia a Igreja e outra, interna, que nós ainda hoje não conseguimos desvendar na sua totalidade. Felizmente deixaram-nos símbolos, marcas, sinais que nos possibilitam avançar na busca.
A dualidade inscrita no medalhão templário e no seu gonfalão representa igualmente a luta do bem contra o mal.
Também utilizaram como símbolo o machado duplo, que vamos encontrar nas mais diversas civilizações do passado. Em Creta, no palácio do rei Minos havia o labirinto (da raiz labris = machado) onde estava encerrado o Minotauro. Teseu, o herói grego, entrou aí munido de duas armas ou instrumentos: um fio e um machado duplo. Foi com este último instrumento que ele matou o Minotauro. Do ponto de vista psicológico, este mito significa que o labirinto está dentro de nós e que, para encontrar o seu centro e matar o monstro, há que estar preparado e ir munido com esse fio para não perder o rumo e com o machado duplo para fazer um trabalho interno e outro externo.
Os Templários trabalhavam a sua natureza interna, tornando-se puros e convictos do Ideal que os habitava: um Ideal profundamente humano, universal, que se insere na atual Era de Aquário. Eles sabiam bem o perigo de cair na especulação intelectual. Atualmente, e para nosso grande mal, intelectualizamos muito e atuamos muito pouco, cristalizamos demasiado o nosso pensamento a ponto de a prática não se conformar com o que pensamos. Os cavaleiros do Templo, ao invés, não separavam o intelecto da prática. Recordemos que a divisa templária é “ORA ET LABORA”, ou seja, orar e trabalhar; cultivar o nosso interior e aplicar os seus frutos em prol da comunidade.
D. Dinis terá sido, na Europa do século XIV, o rei que melhor entendeu e soube da missão dos Templários. Assumindo a qualidade de Pontifex, assegurou a ponte entre o visível e o invisível, entre o mundo material e o mundo espiritual. Rei, poeta, lavrador, o seu símbolo era, por excelência, o machado duplo, que refletia a sua dupla ação: como poeta, lavrou os campos do espírito e, como lavrador, cultivou os terrenos físicos. D. Dinis lavrou as terras, construiu naus e preparou a epopeia marítima lusa que viria no futuro. Tal como diz Fernando Pessoa, “foi o plantador de naus a haver”. Além disso, protegeu os Templários perseguidos em toda a Europa pela cobiça de Filipe o Belo, criando para o efeito a Ordem de Cristo em substituição da extinta Ordem do Templo. A Ordem mudou de nome, mas os cavaleiros da Milícia de Cristo (nome pelo qual também eram conhecidos os Templários) foram preservados assim como os seus bens. D. Dinis, com este golpe político de génio, permitiu que a missão da Ordem do Templo continuasse na Europa, na sua primeira fase e, posteriormente na sua segunda fase, no mundo, como de facto veio a acontecer com resultados palpáveis na época dos Descobrimentos.
No Convento de Cristo em Tomar podemos observar ainda outros símbolos, criptogramas e criptografados com vários níveis de acesso. É interessante depararmos com uma mão com cinco dedos esculpida na pedra, uma das muitas chaves simbólicas representativas do quinto elemento utilizado tanto pelos Templários como pelas facções esotéricas do Islão. Inclusivamente e o que é interessante para um estudioso, trata-se de um símbolo universal que se encontra desde a América pré-colombiana até às culturas megalíticas. Num dos claustros do mesmo convento vemos também, esculpida na pedra, uma figura enigmática: Hermes Trismegisto. É uma divindade egípcia muito esotérica que simboliza, de entre muitas coisas, o conhecimento interno da natureza. De Hermes provém a palavra hermetismo, o que é hermético, fechado, reservado aos iniciados.
Outra figura que presumivelmente podemos encontrar no Convento de Cristo é o célebre Baphomet. Houve quem erradamente pensasse que se tratava do diabo. Na realidade, a palavra Baphomet provém do grego Bafe e Metis que significa “iniciação na sabedoria”, pelo que a sua presença nesse lugar terá um sentido mais amplo... a fazer fé pela forma como este símbolo é representado.
Um outro aspeto a realçar, e já referenciado, é o de que o Castelo de Tomar configura uma barca e está desenhado à imagem da constelação do Boieiro, da qual faz parte a estrela Arcturo (Arthus/Artur). Este desenho ou representação simbólica, figurada da barca do Castelo com a constelação do Boieiro, tem o seu quid, pois induz a missão a cumprir no tempo terreno. É um dos legados transmitidos e que nos indicia uma relação entre os cavaleiros templários em Portugal e o mito do Rei Artur. Lembremo-nos que o Rei Artur, o Rei Urso, num dos seus aspectos, é aquele que encarna na Terra o poder espiritual.
Arthus/Artur: o mito
Há uma lei na evolução do mito por forma a que as proezas de um herói antigo sejam “reatualizadas” nas de um herói mais recente. Assim, o novo Hércules (ou Arjuna, personagem guerreira do Bhagavad Gîta do pensamento indiano) do século VI d.C. chama-se Arthus e o seu instrutor é Merlin (o Krishna galocelta), o mestre iniciador que se manifesta ao discípulo antes de este dar início ao seu trabalho redentor. Merlin, arquidruida ou pontífice, surge epifanicamente perante o olhar assombrado de Arthus, incumbindo-o de empreender a difícil tarefa da conquista do Santo Graal, ou Monte Santo da iniciação, que não é nenhum cálice, taça, jóia ou pedra física.
Merlin, como mestre-iniciador, guarda relações com todos os heróis das teogonias e, deste modo, assume-se como Hércules ógmico – deus civilizador -, que inspira com seus doze trabalhos solares a demanda de seu discípulo Arthus. Este reúne, então, seus doze cavaleiros/discípulos em redor da mesa ou Távola Redonda, cavaleiros esses que representam os doze meses do ano e os doze trabalhos hercúleos que o Sol realiza na Terra ao longo do ano. Ou ainda, os doze patriarcas antidiluvianos, os doze discípulos de Jesus Cristo, os doze deuses maiores, ou signos do Zodíaco...
A tradição cavaleiresca apresenta-nos Merlin encerrado na cidade de Daythia do submundo, transformado em corvo, ou seja, sumido nas trevas deste ciclo humano de queda na matéria, à espera do cisne, o Lohengrin ou cavaleiro andante do ideal, que virá um dia desencantá-lo, isto é, propiciar o ressurgimento da magia branca que trará de novo a Idade de Ouro. A lenda simbólica de Merlin está, pois, relacionada com as grandes lendas iniciáticas, desde o Prometeu agrilhoado, até ao Paraíso Perdido, às duas aves, branca e negra, de Odin (Hugin e Munin), e ao símbolo do corvo-cisne dos cavaleiros Templários.
Assim, o ancião Merlin, o jovem Arthus, os doze cavaleiros da Távola Redonda, mesa eucarística do Santo Graal, conformam todos uma teogonia medieval que, como as antigas, se apresenta no seu séptuplo significado (ou sete chaves de interpretação): astronómico, numérico, geométrico, filológico, biológico, artístico e histórico. E, tal como as demais, tratando-se de uma teogonia secreta, somente por iniciação se poderia alcançá-la.
Por conseguinte, é mais um sinal de algo que os Templários nos quiseram deixar quanto ao sentido da mensagem que pretendiam levar ao mundo e a missão que pretendiam fazer. Não foi por acaso que D. Dinis, conhecedor e sabedor da interpretação iniciática da tradição da Ordem do Templo, os tenha protegido, compreendido e impulsionado na sua missão de levarem o ensinamento do Quinto Império ao mundo através da saga dos Descobrimentos Lusos. Porém, ainda não havia chegado a Hora, como bem entenderam os visionários da nossa história, entre os quais Camões e Fernando Pessoa.
O que é que podemos extrair, no imediato, da mensagem templária? Que não se pode realizar uma obra espiritual se se estiver demasiado apegado às coisas terrenas, dissipando a vida em ódios e intrigas. Há que primeiro realizar um trabalho interno de transmutação; depois, ter a coragem de o levar para a frente e de o concretizar. Neste momento, o que mais se necessita é de homens espirituais, de homens de boa vontade imbuídos do espírito de entrega e serviço a uma causa, a um ideal, com o fito de cumprir a missão pela qual a sua existência se realiza; homens de espírito que saibam a missão para a qual foram designados e tenham a luz, a força e o amor suficientes para canalizar todos os que aspiram, sem reservas, a ter um papel na história para que a missão se cumpra.
Esse sonho, esse Ideal habita de tal modo em nós que ainda hoje andamos massacrados interiormente com o Mito Sebastianista que, sob um determinado ponto de vista, é a consequência negativa desse sonho inacabado.
O que é que pretendiam os Templários? Pretendiam criar dentro do espírito da Nova Era e da Idade de Aquário, uma simbiose entre a Ciência e a Religião, ou seja, religião na ciência e ciência na religião, de modo a desenvolver a capacidade de percecionar Deus, o Inteligível, a Unidade Cósmica na Ciência e na Religião. A Ordem do Templo, em suma, procurava a Verdade.
A mensagem que os Templários têm para nós é a de criar esse Quinto Império - o Império do Espírito na Terra, onde os valores espirituais predominam sobre os valores materiais. Isso não impede que haja concretização. Os frades do Templo sabiam muito bem que, para realizar a missão, era necessária uma sólida estrutura material, embora submetida aos valores do espírito. É esse o conceito de Quinto Império: o império do espírito sobre a matéria, o império do entendimento e da concórdia. No ideal templário todos tinham o seu lugar, porque haviam superado as diferenças de raças, credos, nacionalidades.
Nos séculos XII, XIII, embora fossem obrigados pelas circunstâncias a assumir uma posição oficial de acordo com as directrizes da Igreja de Roma, mantiveram ocultamente ligações muito estreitas com as elites intelectuais do Oriente. Pretendiam preparar o terreno para que houvesse um entendimento entre os povos, baseado naquilo a que podemos chamar uma religião universal, respeitadora das diferenças de culto. Entendiam que Deus é Uno, que há um Caminho, uma Unidade, um Objetivo Último, um Destino Comum para toda a Humanidade.
Se aceitarmos que somos diferentes e que, apesar ou graças a essas diferenças, podemos conviver uns com os outros, porque sabemos que há algo de superior que nos une, começaremos a realizar no presente a anunciada Confederação de Estados regidos por um princípio unitário.
A obra que os Templários deixaram nas Índias e na América foi significativa; porém, ainda não tinha chegado o momento histórico para implantar um Império espiritual. Na realidade, tal como sucedeu na Grécia clássica com os pré-socráticos, houve naquela época um movimento esotérico que serviu de laboratório de ensaio para o futuro.
Os Templários constituíram um foco de luz de tal modo potente que ainda hoje ilumina o inconsciente coletivo do povo português. É uma força que não conseguimos controlar, pois ultrapassa a nossa razão. Daí querermos entender a mensagem que eles nos deixaram, descobrir verdadeiramente por que é que existiram, já que pressentimos que há algo que ficou inacabado. Há que procurar inteligir os símbolos, procurar compreender a missão templária e depois fazer a ligação com o futuro, com a Nova Era.
Portugal tem um papel importante no mundo. Teve no passado quando desbravou as trevas da Idade Média e terá no futuro dando o exemplo de como se pode conviver com os outros povos, independentemente de credos ou raças. Essa inspiradora luz podemos nós encontrá-la na Ordem do Templo (ou de Cristo) que é parte integrante da nossa história e é essa mesma história que agora nos chama para a missão do futuro. Chegou a Hora.
Eduardo Amarante
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