
Depressão na mulher
Por Paulo Fernandes em Março de 2022
Já se passaram dois anos a viver num contexto de pandemia e imensas pessoas pelo mundo sofrem de ansiedade ou depressão, muitas das quais sentem-se isoladas.
Antes da pandemia se ter implantado em praticamente toda a população do planeta os números referentes à depressão já eram alarmantes, segundo a OMS (Organização Mundial da Saude) até 2030 esta doença deverá ser a mais comum no mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde superando os cancros e patologias cardíacas, acometendo também mais mulheres do que homens.
Outro dos fatores em causa são os fatores económicos associados, devido aos gastos com tratamentos e as perdas de produtividade.
A pandemia fez com que os transtornos mentais se agravassem e na tentativa de compreender o contexto os especialistas criaram novos termos para dar nome ao estado psíquico vivenciado.
• Fadiga pandêmica – é a denominação adotada para designar o cansaço e o esgotamento físico e mental provocado pela pandemia. As restrições sociais, financeiras entre outras reduziram a objetividade e o planeamento das atividades criando um vazio, que por si só não é problema psíquico, mas prolongando esse sofrimento vai gerar ansiedade, insónia e depressão, mesmo em quem não demonstrava esse tipo de sofrimento.
• Definhamento – os sintomas mais comuns são a falta de propósito, estagnação, falta de motivação, dificuldade de concentração e quebra no rendimento intelectual, falta de alegria e de objetivos. Como observado anteriormente por si só estes fatores não determinam um transtorno mental instalado, mas também não são indicadores de boa saúde, levando a que no futuro se instale a ansiedade e a depressão.
É muito significativo ver jovens sem objetivos, que não fazem projetos para o futuro, com o fator medo expresso na sua vida que os paralisa e impede de evoluir.
Na prática a pandemia intensificou os quadros de ansiedade e depressão, desestabilizando patologias já existentes que estavam controladas. Entre os novos elementos está por exemplo o peso do luto, pois muitas famílias perderam membros e não lhes foi proporcionada a possibilidade de despedida e o tempo de velar os entes queridos, de modo a concretizar o facto nas suas mentes.
A questão da depressão na mulher
De acordo com a OMS inúmeros estudos indicam que a prevalência da depressão na mulher se situa entre os 10% e os 25%, já entre os homens esse índice situa-se entre os 5% e os 12%.
Estes valores não se baseiam num único fator, mas na soma de vários, entre os quais destaco a própria biologia feminina com todas as questões genéticas, hormonais e físicas, os fatores ambientais e os fatores sociais, com a transformação do papel da mulher dentro da família e na sociedade em que a mulher é cada vez mais solicitada a contribuir financeiramente no orçamento familiar, investe cada vez mais na sua independência e carreira profissional, acumulando ainda muitas vezes com as responsabilidades inerentes à maternidade.
Embora possa obter benefícios dessa transformação, a sua carga de stress tende a ser maior, criando no futuro sobrecargas que levam à doença.
Identifiquemos abaixo alguns dos principais promotores de stress
Fatores profissionais: Sobrecarga de trabalho, tempos de descanso curtos, questões com superiores e problemas de gestão de carreira, dificuldades económicas, despedimento.
Fatores familiares: Problemas conjugais e fim de relações sentimentais, estar longe de casa, a maternidade, os filhos e o seu bem-estar.
Fatores relacionados com a saúde: Perda de integridade física, doença cronica, debilitante ou incapacitante.
Fatores relacionados com eventos ambientais: Catástrofes naturais, acidentes diversos, guerra.
Fatores relacionados com a violência: Física, psicológica, criminalidade.
Principais características em cada fase da vida
Embora os sintomas clássicos da depressão estejam presentes em qualquer idade, existem características que podem variar de acordo com cada fase da vida:
Depressão na infância
A depressão na criança pode ser a mais difícil de reconhecer, já que os sinais de isolamento social são facilmente confundidos com birras e timidez. Entretanto, sinais característicos como fazer xixi na cama, agressividade e dificuldades de aprendizagem, podem ajudar no diagnóstico. Caso estes sintomas se manifestem é importante que os pais relatem ao pediatra a alteração do comportamento da criança, que avaliará de forma específica o quadro clínico, para confirmar se realmente é depressão ou outro tipo alteração, como ansiedade ou hiperatividade,
Depressão na adolescência
Os sinais específicos que indicam a depressão nesta fase, além dos sintomas clássicos, são irritabilidade constante, falhas de memória, falta de autoestima e sentimento de inutilidade, além dos sintomas clássicos. Mudanças de humor e comportamento são comuns na adolescência, por ser a fase com mais alterações hormonais durante a vida, mas não é fator único o ambiente social com toda a sua competitividade pode cobrar de forma excessiva e gerar dúvidas. Como tal é importante que em caso de suspeita, se procure ajuda profissional para se fazer o diagnóstico correto.
Depressão na gravidez ou pós-parto
A variação de humor neste período é normal e resultado das alterações hormonais comuns na gravidez ou pós-parto e pode ser caracterizado por mudanças no humor, ansiedade, medo e tristeza, que pode levar ao desinteresse pela gravidez e falta de interesse no bebê após o nascimento. Porém, se o humor deprimido é persistente deve-se relatar ao obstetra que acompanha a gestação ou puerpério. Normalmente a depressão na gravidez ou no pós-parto pode surgir em casos onde a insegurança financeira, medo, indecisão e pressão social e pessoal estão presentes, além de uma experiência traumática durante o trabalho de parto.
Depressão no idoso
A depressão nas populações mais e idosas pode surgir devido a fatores hormonais e ambientais. Os sintomas característicos desta fase da vida são a falta de higiene como não querer tomar banho e manter as instalações onde habita em condições, recusa-se a tomar a medicação prescrita, altera as rotinas alimentares, em conjunto com todos os outros sintomas clássicos. Quando não acompanhada, a depressão no idoso, pode trazer consequências graves à saúde, como perda da autonomia, alterações da memória, isolamento social, além de favorecer o surgimento de outras doenças.
Como ajudar?
Esta é uma das perguntas que mais pessoas se fazem perante alguém com depressão, e provavelmente conhecemos uma ou mais mulheres que lutam ou já enfrentaram a depressão.
Logo à cabeça necessitamos de ser empáticos e procurar entender a dor do outro, compreender e estar atento aos sinais e sintomas, quanto mais precocemente melhor.
Numa fase inicial a intensidade dos sintomas é menor e descrita com a falta de energia e sonolência durante o dia, no entanto a quantidade e intensidade dos sintomas vai evoluindo ao longo do tempo e surge a falta de vontade de realizar atividades que davam prazer, falta de energia e cansaço constante, sensação de vazio e/ou tristeza, irritabilidade, dores no corpo, alterações de peso, perda de apetite, falta de concentração e pensamentos de morte.
Com esta lista em mente é recomendado que encaminhe a pessoa para um profissional de saúde, que irá avaliar, diagnosticar e contribuir para a sua recuperação e superação da patologia.
Porque a depressão tem cura!!!
Paulo Fernandes
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