UM TEMPLO QUE CELEBRA A UNIDADE NA DIVERSIDADE
O Templo Ecuménico Universalista, localizado no concelho de Miranda do Corvo, na serra da Lousã, tem como finalidade a promoção de valores universais como a liberdade, a igualdade, a fraternidade, a tolerância e o respeito pela diferença.
Inaugurado em 11 de setembro de 2016, um ano após o lançamento da primeira pedra, em 2015. A coincidência de ambas as datas com o aniversário dos acontecimentos trágicos de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América, não foi por acaso.
O templo pretende ainda homenagear todos os seres humanos que sofreram e morreram devido aos conflitos e à intolerância de raiz religiosa.
O templo foi promovido pela Fundação ADFP – Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional, uma instituição particular de solidariedade social com reconhecimento de utilidade pública pelo Estado português.
AS PREMISSAS BASILARES DO TEMPLO
A promoção do Templo parte de uma visão holística e integradora do ser humano, segundo a qual a condição humana deve ser perspetivada como um todo integrado.
Com base nesta conceção da condição humana, este espaço é um templo porque a generalidade das tradições espirituais consideram que cada ser humano é convidado a ser um templo vivo, uma manifestação do Divino no âmbito da matéria em ascensão. Por conseguinte, o Templo é um espaço no qual o visitante é convidado a expressar a dimensão mais criativa, profunda e sagrada da sua condição humana, independentemente das suas convicções.
O Templo é ecuménico porque valoriza a diversidade espiritual da humanidade, incluindo os não crentes.
O Templo é universalista porque promove o respeito pela sabedoria presente nas visões religiosas e espirituais de todas as eras e culturas. Os conteúdos, os signos e os símbolos do templo manifestam a dimensão plural e universalista da humanidade.
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
O complexo do Templo Ecuménico Universalista é formado por três espaços distintos, mas complementares.
Em primeiro lugar, o caminho desde a entrada até ao templo propriamente dito. O caminho é constituído por uma escadaria direcionada para a entrada na pirâmide e dois percursos pedonais, à direita e à esquerda, permitindo o acesso de pessoas com mobilidade reduzida. No âmbito da escadaria, existe um espaço retangular, com 8,9 metros de largura e 17,8 metros de cumprimento, as medidas de base do antigo templo de Salomão, em Jerusalém. Este espaço retangular é ladeado por 15 bancos, o mesmo número das cosmovisões espirituais representadas no templo. Na escadaria, existe também um espaço dedicado à palavra paz em diversas línguas.
Em segundo lugar, os dois trilhos que rodeiam o edifício piramidal do Templo, que convidam o visitante a constatar a diversos símbolos que nos incentivam a contemplar a diversidade da simbologia espiritual da humanidade, culminando num conjunto concêntrico de sete círculos que mostram os principais defeitos que condicionam o aperfeiçoamento ético e espiritual do ser humano: a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça.
Em terceiro lugar, o templo, que assenta num edifício piramidal e nos espaços exteriores que envolvem a construção principal.
A PIRÂMIDE
A pirâmide tem a altura de 13,40 metros, a altura do Templo de Salomão, construído no século IX A.E.C., em Jerusalém, e apresenta a cor ocre, uma cor que nos remete aos primórdios da Historia humana.
A escolha da forma piramidal é uma homenagem às pirâmides construídas no Egipto antigo, que foram das primeiras construções de índole espiritual edificadas em pedra.
Os cantos da pirâmide estão orientados para os quatro pontos cardeais: norte, sul, este e oeste.
Nas fachadas da pirâmide, estão representadas três palavras e três letras maiúsculas: Bondade (M), Moral (R) e Verdade (J), para além dos símbolos dos monoteísmos abraâmicos (cristianismo, judaísmo e islão).
A entrada da pirâmide faz-se através de uma porta ladeada por uma pequena corrente de água, mostrando um gesto simbólico de limpeza e purificação antes da entrada, que é um símbolo espiritual universal comum à generalidade da humanidade.
No pavimento da pirâmide, está desenhado um quadrado com um labirinto em calçada portuguesa, a preto e branco. Este quadrado tem de lado 5 metros, o que remete para a dimensão do Santo dos Santos do Templo de Salomão. Além disso, o labirinto inspira-se nas representações da espiritualidade templária, designadamente presentes nas catedrais de Chartes e Amiens, e na mitologia greco-romano representada no mais famoso mosaico de Conimbriga.
No centro da pirâmide, localiza-se um paralelepípedo de pedra de granito polido serve de suporte a uma rocha bruta em estado natural.
O paralelepípedo tem as dimensões de 0,66 metros x 0,66 metros x 1,11 metros, tal como a Arca da Aliança, peça por excelência do simbolismo espiritual judaico-cristão.
Em cima do paralelepípedo, existe uma pedra negra, que representa simultaneamente a pedra negra existente em Meca, o lugar sagrado por excelência do islão, e uma metáfora que nos remete para a imagem da condição espiritual do ser humano em construção: o trabalho da pedra bruta que somos até se alcançar a pedra polida e geometricamente perfeita que desejamos ser.
Ainda na pirâmide, mas no espaço entre as paredes exteriores e o espaço central, cilíndrico, é sugerido um percurso designado de Observatório de Religiões. São, mais que religiões, filosofias ou espiritualidades, cosmovisões, pois enquadram a relação do ser humano com o Sagrado. A sua ordem foi definida com base nas grandes geografias e culturas, e dentro destas, sucessivamente, a sua sequência cronológica. Neste sentido, começa-se pelo hinduísmo, depois pelo xintoísmo, continuando pelo jainismo, budismo, confucionismo, taoismo, sikiquismo, religiões dos orixás, paganismo, judaísmo, zoroastrismo, cristianismo, islamismo, fé bahá’í e, por último, o ateísmo.
Na parede exterior do cilindro central, está exposta uma cronologia comparada da história mundial das religiões.
Após a apresentação das religiões, apresenta-se um conjunto de acontecimentos, guerras e conflitos, que mostram a violência e a barbárie que pode ser gerada por motivos religiosos.
OS ESPAÇOS EXTERIORES
Nos espaços exteriores do Templo, podem ser encontrados alusões a várias espiritualidades, como símbolos do taoismo, a imagem de Sindhartha Gautama, o Buda histórico, um altar hindu com três divindades (Ram, Sita e Laxman), a cruz de Cristo, a Mesa da Igualdade dos shiks (que também pode ser a mesa da Última Ceia cristã ou a Távola Redonda da tradição celta), referências ao mundo politeísta e uma queima velas, uma peça com a imagem de duas mãos erguidas em oração, gesto comum a crentes de diversas visões espirituais.
Junto da pirâmide do templo, existe um mastro dedicada à bandeira nacional de Portugal, com a altura de 15,24 metros, a altura da Caaba muçulmana, numa homenagem a uma religião que chegou a ser maioritária em Portugal na Idade Média. Também é uma homenagem a Portugal como pais cuja ordem jurídica, politica e social se baseia na dignidade da pessoa humana e na liberdade de consciência e de religião.
O TEMPLO COMO ESPAÇO AO SERVIÇO DA LIBERDADE E DA PAZ
O Templo Ecuménico Universalista pretende ser um espaço de liberdade, no qual se respeitam as diversas convicções espirituais, dando espaço para cada ser humano encontre livremente a sua forma de relação com o Sagrado e o Divino.
O Templo pretende que as diversas religiões existentes atuem de acordo com os seus ensinamentos mais profundos, contribuindo para um mundo mais livre e fraterno, baseado no diálogo inter-religioso e na reverência pela Natureza, da qual somos parte.
Com efeito, o Templo Ecuménico Universalista é um templo respeitador da diversidade espiritual da humanidade, aberto a todos os religiosos e crentes, agnósticos e ateus. Um Templo que nos desafia a explorar e a descobrir o sentido da vida. Um Templo que nos revela a paz como dádiva do Divino para a humanidade.
Daniel José Ribeiro de Faria
Maria de Fátima Ribeiro
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