Diálogos verdejantes por caminhos encantados
Por Luísa Oliveira em Julho de 2021
Em caminhos verdejantes entrei em diálogos encantados. Com quem? Sobre quê?
Com os meus “Eus”, com as plantas que me rodeiam.
Tantos caminhos palmilhamos ao longo da nossa vida, quanta cor lhes damos de acordo com o que sentimos.
Quantas e quantas vezes só movemos o corpo num ritmo mecanizado?
Por vezes, os nossos olhos cruzam-se com outros olhares e nem sequer se olham.
Quando os olhos ficam límpidos encontram muros, campos e caminhos encantados.
Descobrem a maravilhosa Natureza e, como que de uma relação amorosa se tratasse, iniciam diálogos encantados de amor e gratidão.
Por estes dias, caminho serena pelas ruas da minha cidade, respiro o ar envolvente como prana que alimenta o fogo interno, sinto as minhas raízes e deixo-me envolver pela Mãe Terra, bebendo da fonte da sabedoria interna.
Observo a Natureza que me envolve e entro em conexão com todo o seu esplendor de vida.
Quem sou eu, quem são elas, as lindas plantas que vejo crescer, amadurecer conforme os dias passam?
Uma folha nova, um novo formato e, vejo-me a descobrir nomes, factos e curiosidades à muito esquecidos.
Viajo no tempo, viajo no espaço.
Paro junto ao umbigo de Vénus, conchelos, ou outros nomes mais.
Abundam por aí, em muros de pedra, às sombras das árvores, em qualquer recanto com sol e água que lhe dão vida.
Como será possível que ao longo de todos estes anos me tenham passado despercebidas?
Como será possível que perdi a magia do olhar?
Ainda é tempo de a resgatar.
Olho para esta verde planta, viajo até à minha aldeia minhota e a alguns agostos da década de 70.
Encontro-me na liberdade dos campos abertos em risos e brincadeiras do faz de conta, com os primos.
Não existiam brinquedos, mas pedras, paus e ervas não faltavam.
Era o nosso mundo fantástico que, como fadas que éramos, tudo transformávamos.
Estas eram as bolachas, e a sua flor, já seca, era o arroz ao qual se juntava a fumária.
Fecho os olhos, ouço as gargalhadas e os nossos diálogos de crianças a imitar os adultos. Ainda falta pegar no dente de leão e brincar de soprar e perguntar: o teu pai é careca?
Sinto o cheiro maravilhoso da colorida ervilha de cheiro e da adocicada madressilva que consolava as nossas papilas gustativas com a sua seiva doce como o mel.
Esta minha menina criança desperta todos os cinco sentidos internos, e deixa-se levar nas asas do colibri onde transpõe portas e umbrais …
Continuo na caminhada, ainda meia inebriada e descubro outras, a cimbalária dos muros. Frágil, singela de uma beleza tão subtil. Observo-a com admiração, o seu crescimento em direção ao sol para se alimentar da sua energia. Já madura, recolhe-se e de uma forma tão grandiosa, contorce as suas hastes para depositar as sementes numa fenda segura, onde ficará guardada até ao próximo ano. Como mãe cuidadosa que é, não as deixa soltas ao vento, porque sabe que num outro local não iriam sobreviver. É esta a sua função, o seu propósito. Dou comigo a pensar se a vida não é isto mesmo! Quantas e quantas vezes temos que nos recolher para renascer.
Oh! Nesta conexão, penso: quem me dera ser como a cimbalária que transforma o feio em belo, o velho em novo e saber recolher para transformar. Surge-me então, parte do poema de S. Francisco:
"Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz "
Continuo, agora com olhos abertos e com os sentidos despertos para o aqui e agora. Vejo tantas e tantas ervas e ervinhas que ao longo dos tempos alimentaram e curaram. Durante séculos, foram maceradas, fervidas, reduzidas a pó, essências, óleos e transformaram-se em remédios, alimentos e venenos que só algumas mulheres conheciam. Eram as mulheres curandeiras, de conhecimentos ancestrais incompreendidas, escondidas, mas que todos a elas recorriam. Tudo por aqui, sem ninguém dar conta: o hipericão, o cardo, camomila, dedaleira, leitugas, saramagos, urtigas e tantas, tantas outras. Presto homenagem às anciãs que, com toda a sua sabedoria, permitiram que chegássemos aos dias de hoje.
Não paro de dialogar e fico extasiada pela beleza das cores da Natureza, enquanto observo o som das fontes e o baile das abelhas numa busca pelo seu alimento.
No final do caminho levanto os olhos em lágrimas de felicidade por tudo o que me rodeia; agradeço à Mãe Terra por toda a beleza, por toda a sabedoria, por todo o ensinamento e alimento.
Luísa Oliveira
Madressilva
E… se eu fosse uma planta o que seria? Seria uma madressilva. É a minha planta silvestre de eleição.
A madressilva é muito bonita, cheirosa, doce, resistente e trepa em direção ao céu.
Foi por mim eleita, como a flor da Mãe.
Estamos no mês de maio, mês das mães.
Todas as mães são as mais bonitas para os seus filhos. Têm um cheiro inconfundível, beijos muito doces, os seus dois braços transformam-se em muitos abraços e seu colo sabe a mel.
São de uma resistência incomparável.
Carregam, durante nove meses, toda a Luz do mundo em forma de Ser humano.
Dão à Luz a própria Luz.
Quando os seus filhos se transformam em anjos elas trepam por fios invisíveis até ao céu e estabelecem encontros de Luz.
Haverá planta mais abençoada que esta?
Só o nome já diz tudo... Madres
Um abraço a todas as Madres de estrelas na terra e de anjos no céu.
Um abraço a todas as Madres de coração, que sem filho de si saído, abraçam os filhos que acolhem no coração.
A madressilva é o chamado mel silvestre, as suas flores têm dentro de si uma seiva muito doce, comparável ao mel que deleitam papilas gustativas.
As folhas têm propriedades anti-inflamatórias, antiespasmódica e substâncias antibióticas. Ajuda a combater os problemas respiratórios (problemas de expetoração, tosse, asma e bronquite) e gastro intestinais.
São ainda boas para combater inflamações da boca e da garganta, utilizando-se gargarejos.
Tanto as flores como as folhas são diuréticas, digestivas e um laxante suave. Devem-se tomar sob a forma de infusão.
Usada em fitoterapia desde há muito tempo atrás, é calmante do sistema nervoso, sobretudo em casos de ansiedade provocada por ataques de asma.
A água aromática, destilada de suas flores, tem o poder de combater vômitos e espasmos no corpo.
Quando era pequenina, os meus pais tinham um quintal e, junto deste, havia uma enorme madressilva. Muito me consolava com o seu cheiro e com o sabor das suas flores. Quantas delas eu sorvi!
Curiosidade:
Na Idade Média, acreditava-se que o perfume da madressilva provocava sonhos eróticos. As adolescentes estavam proibidas de apanhar e de levar para casa, ramos desta flor.
Cuidado:
Os frutos são venenosos e podem fazer muito mal ao organismo quando ingeridos.
Luisa Oliveira
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